sexta-feira, 21 de maio de 2010

Seleção cumpre promessa e se isola no primeiro dia

Acesso dos jornalistas aos atletas foi impossibilitado, e Dunga não deu entrevista
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Por Giuliano Gomes/Gazeta Press Rodrigo Paiva é o homem com a missão de controlar a imprensa e evitar polêmicas na preparação da seleção
Logo no primeiro dia em Curitiba, Dunga mostrou que vai cumprir a sua promessa. Nunca, em todos os tempos, a informação foi tão controlada na concentração brasileira, nem a seleção foi tão isolada da imprensa.


Nesta sexta-feira (21), o preparador físico Paulo Paixão e o médico José Luiz Runco falaram em entrevista coletiva. E só. Os jogadores passaram o dia fazendo exames médicos e musculação. Mas se tivessem plantado uma horta ou apostado corrida em cima de cavalos, ninguém saberia.

O Centro de Treinamento do Atlético-PR é imenso. Os atletas só foram vistos entrando com o ônibus da seleção por volta das 11h. Só. A intenção é essa mesmo: blindá-los, como disse o chefe da assessoria de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva.

- Nós só vamos fazer o que as maiores seleções do mundo fazem. Exatamente a mesma coisa. Acabou aquela história de zona mista, de jogador entrando em programa de televisão ao vivo. Todos só vão falar em entrevistas coletivas. O Brasil se abria demais. A própria imprensa reclamava. Então, estamos fazendo o nosso trabalho, e seguindo o conselho da própria imprensa.

Seguranças impedem qualquer aproximação aos jogadores. As instalações são grandes no CT do Caju. Lembram um quartel. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, está por trás desse esquema fechado, ainda por causa do que aconteceu na preparação para a Copa de 2006, em Weggis, na Suíça. E depois, pelas baladas nas noites de folga, após as partidas, quando os jogadores podiam voltar às 5h, e voltavam.

Não foi por acaso que os torcedores paranaenses ficaram frustrados ao passar frio e chuva do lado de fora do CT do Caju. É uma retribuição às críticas do que aconteceu em Weggis, quando houve até show de mulatas na instalação onde a seleção treinava e cobrança de ingressos para o público acompanhar os treinamentos.

- A CBF foi criticada por deixar um grande número de torcedores acompanharem os treinos em 2006. Agora está fazendo o que a imprensa recomendou. Os torcedores brasileiros não podem ver os treinos. Está tudo em ordem.

Dunga acredita que o isolamento aproximará os jogadores, exatamente como aconteceu na Copa de 1998, quando a seleção ficou trancada em uma concentração na França. Os jornalistas não tinham acesso. Esse período foi bem aproveitado para que os atletas selassem laços de amizade. É o que ele deseja em Curitiba. E também já está decidido que ninguém será liberado para baladas durante a Copa.

Teixeira não fala publicamente, mas acredita que o responsável pelas festanças foi Carlos Alberto Parreira. Ele não soube dizer “não” aos atletas. Ele teria poder para isso, mas faltou atitude. Com Dunga, nada de balada durante o Mundial.

A preocupação do treinador é controlar seus jogadores. Proteger, diz ele. Até as entrevistas exclusivas ele pretende barrar, para não tirar o foco do time durante a Copa e evitar qualquer polêmica. A sugestão é que ninguém utilize o Twitter, Facebook ou Orkut para passar o que acontece na concentração no CT do Caju.

A ordem é fazer com que os jogadores da seleção não sejam importunados por nada. A fórmula para isso é não passar munição para os programas de televisão, para as rádios, para os sites, para os jornais. Em Mundiais passados, entrevistas “mal interpretadas” deram margem para inúmeros problemas com familiares de atletas. Tudo isso foi passado a eles, e não houve revolta.

Os atletas estão acostumados, porque esse é o comportamento habitual nos seus clubes. Dunga sabe com quem está lidando. Sem Adriano, Ronaldo e Roberto Carlos ele se sente bem mais tranquilo. Dá a ordem e não há contestação. Sua palavra é lei.

- Não queriam a organização da Europa? Pois vão ter.

e Dunga está cumprindo o prometido. Na primeira entrevista coletiva, Paixão e Runco estavam muito bem-orientados. Eles deixaram claro que Luís Fabiano e Kaká estão no final do tratamento por dores musculares na coxa esquerda. Há chance de até treinarem com bola na próxima terça-feira (24), quando o grupo deverá dar os primeiros chutes a gol. Coletivos, só na África.

Ambos fugiram de qualquer pergunta que poderia gerar polêmica, exatamente como Dunga quer a sua seleção. Se possível, calada. Triste para os torcedores curitibanos que ficaram o dia inteiro sonhando com a chance de ver os jogadores. Melhor comprar uma moderna televisão.

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